A história, essa gigante enraizada no tempo e solidificada em leis, instituições e tantas outras ações humanas, nasce de situações simples, como uma frase escrita às pressas em um papel ofício. Foi assim que, em junho de 1979, o então deputado constituinte Walter Carneiro possibilitou a gestação da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems), que está presente, hoje, em 28 municípios. Os bastidores desse acontecimento e de tantos outros estão reunidos no livro “Um Benedito Guaicuru… de Caneta, Chapa e Cruz… Maltino”. O livro, escrito pelo jornalista Edson Moraes, será lançado no dia 27 de junho, a partir das 8h30, no saguão da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS).
As memórias presentes no livro não se restringem à vida de um homem que completou, em fevereiro, 81 anos. Essa biografia é um afluente que deságua no rio da história de Mato Grosso do Sul – mais da metade dos 81 anos está intricada com a construção e o desenvolvimento do Estado. Exemplo disso está no papel ofício em que Walter Carneiro escreveu, no limite do tempo para ser votada na sessão plenária daquele dia, a proposta de emenda constitucional com os dizeres “Fica criada a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, com sede na cidade de Dourados”.
“Tinha uma comissão constitucional e eu apresentei a emenda [de criação da Uems] a essa comissão”, lembra o ex-deputado. No entanto, o relator da comissão, deputado Ramez Tebet (1936-2006), entendeu que essa proposta deveria ser objeto não de uma emenda constitucional e sim de uma lei complementar. Walter Carneiro consultou, então, outro deputado, Cleomenes Nunes da Cunha, que era advogado. Foi orientado a pedir destaque e apresentar a proposta no plenário com assinaturas de dois terços dos parlamentares (12 dos 18 que havia na época). E isso tudo rapidamente, nos minutos que precediam a votação. “Não deu tempo de eu ir ao gabinete pra mandar escrever. Eu peguei uma folha de papel de ofício e escrevi à mão. Consegui assinaturas de 16 deputados e apresentei a emenda”, rememora.
É por essa e outras histórias que a “caneta”, que está no título do livro, tem significado importante na biografia de Walter Carneiro. E foi com uma caneta que o ex-deputado, na ocasião presidente da Assembleia Legislativa, realizou outro ato de destaque no processo de edificação da democracia em Mato Grosso do Sul: a assinatura da posse do primeiro governador eleito, Wilson Barbosa Martins. “Até hoje eu tenho essa caneta”, contou, em referência a um objeto guardado há quatro décadas.
Nome do livro
O título do livro é intrigante, por reunir termos aparentemente desconexos. No entanto, “Um Benedito Guaicuru… de Caneta, Chapa e Cruz… Maltino” é outro modo de dizer “Walter Benedito Carneiro” em suas origens e, até mesmo, em sua paixão pelo futebol.
O ex-deputado destrincha palavra por palavra. “O ‘Benedito’ é do meu nome. ‘Guaicuru’, devido à tradição dos índios Guaicurus aqui do Estado. E os cuiabanos natos são os Guaicurus. E são também “Chapa e Cruz”. Lá em Cuiabá se fala ‘cuiabano de chape cruz’ [informou com sotaque]. É o cuiabano nato. E ‘Maltino’, porque eu sou vascaíno”, explicou.
O personagem e o livro
Nascido em Cuiabá, em 14 de fevereiro de 1942, Walter Benedito Carneiro é casado com Elizete Vieira Carneiro, tem quatro filhos e seis netos. Exerceu dois mandatos na Câmara de Vereadores de Dourados, entre os anos de 1973 a 1978. Na ALEMS, foi eleito deputado constituinte em 1979 a 1983 e deputado estadual nas segunda e terceira legislaturas (1983 a 1987 e 1987/1991). Durante a segunda legislatura, foi eleito presidente da Mesa Diretora.
O livro, editado e impresso pela Life Editora, tem 150 páginas. Edson Moraes começou a escrevê-lo em 2021 e realizou ampla pesquisa e série de entrevistas. O livro apresenta centenas de fotos da época e depoimentos de políticos, servidores públicos, jornalistas e pessoas que participaram da construção da história de Walter Carneiro e, por conseguinte, da Assembleia Legislativa e de Mato Grosso do Sul.